sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Perdoa Coração,


Sei que várias vezes enviei-te conselhos ofensivos; disse a ti tamanha raiva que nutria por você e que se eu pudesse te mandava embora. Praguejei toda a minha vida, contra ti; desejei-te todo o mal e até tua própria morte, mas a vida gira e nos faz inverter os valores. Por isso, coração, aqui estou eu: com orgulho pela goela abaixo, arrependimento pulsando na veia para pedir-te perdão.
Aprendi, meu caro amigo, que não tens culpa das expectativas que carrega contigo, percebi até, que tens certa aversão a elas. Agora, eu vejo que se pudesse expulsava todas elas de tua casa, mas não te deram poder suficiente. Entendi que criá-las não depende de tua vontade, é involuntário e machuca mais a ti do que a mim.
Foi inevitável também não enxergar que não presenteias alguém com maior valor por escolha própria, que isso independe de tua opinião. Às vezes discorda, mas tua voz é tão baixinha que não tens como protestar; acabas, sem querer, valorizando a que não merece tua pureza e mesmo quando tal ser cruel pisa-te e machuca-te não tem forças suficiente para mandá-lo embora de tua morada: és fraco, pobre coração.
Tua memória também não se alia a teus desejos: lembra-te o tempo inteiro do que queres esquecer. Eu sei, caro amigo, não relembras do que te faz mal por querer: é involuntário, forçado e desce-te rasgando, amargo. Visita a tua cabeça pessoas que mal demais te fizeram e o rancor te impreguina, mesmo sem quereres. Sei, companheiro, sei que queres te limpar, te livrar de tudo isso que te trai, mas não tem força para isso e nem poder.
E alegra-te: não só eu reconheci que errei, mas a razão também. Assim como eu, ela entendeu que és inocente e que existem forças maiores que ela, ocultas, a quem tu deves maior obediência, mesmo a contra gosto. Conversamos e resolvemos fazer as pazes contigo, não mereces isso; não és digno de tamanho ódio.
Perdoa-me, querido. Entende que sei demais das coisas frias e entendo pouco desse quente do amor. Enxergue em mim, a partir de agora, alguém com quem contar; saibas que saberei, de hoje em diante, escutar-te, analisar teus motivos e compreender-te: serei devota amiga tua. Não te mate pouco a pouco, ainda tens muito a viver, a sofrer. Ah, pobre coração, ainda tens tanto a enfrentar.
Cuida-te. Não tome sereno, podes pegar uma pneomonia e, quem sabe, não resista a tal frieza. Não fale com estranhos, é perigoso entregar-se a tal aventura; procura enxergar quem bem te quer de verdade. Mas não te forces a nada, pois é tão fraco, que tem força o suficiente para suportar. Não exagere no álcool, pode embriagar-te de amor e tornar-se alcoólatra. E atenta ao volante, cuidado para não acelerar demais e acidentar-te outras vezes. Cá estou eu, novamente, a falar demais. Quer saber? Não escute nada que te disse, são apenas coisas bobas de quem aprendeu a zelar. Entrega-te a liberdade que amor não é realmente coisa para teu bico: é pouco, muito pouco.

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